24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

8 de Setembro. Mestre Daniel, deste mundo à eternidade


Daniel Pereira de Mattos (13.07.1888 – 08.09.1958) trabalhou ininterruptamente por 12 anos e alguns meses na Missão espiritual que lhe foi destinada (1945 a 1958). De cipó e folha Mestre Daniel erigiu o seu Culto de Oração e cânticos sagrados, para desta forma poética e amorosa louvar a Deus Jesus Nosso Senhor.

Construiu sua casinha de paxiúba com telhado de palha, no meio da mata, onde foi morar sozinho, na Vila Ivonete (Rio Branco-Acre). Ao lado edificou uma Capelinha simples, de taipa, e na frente levantou um Cruzeiro de madeira.

Na construção da Igrejinha foi ajudado pelos discípulos de primeira hora José Joaquim da Silva e Anelino Cavalcante da Silva. No interior da capela construiu um altarzinho de tijolo, e colocou imagens de santos que ele mesmo fazia com canivete e pedaços de madeira.

Franciscanamente deixou a cidade e se embrenhou na floresta. Fez uma promessa de não se afastar das imediações do templo nem ir à cidade pelo prazo de dez anos. Abandonou toda e qualquer atividade remunerada. Viveu para a caridade e da caridade do seu próximo, cumprindo as palavras do Nosso Senhor Jesus Cristo: “o que de graça recebestes, de graça darás”.

Depõe Manuel Hipólito de Araújo:

— Daniel Pereira de Mattos era um homem pobre, humilde, que vivia na vida franciscana. Comia de esmola. Quem recebia os benefícios dos seus trabalhos espirituais lhe levava um pão, um pedacinho de carne, um litro de leite; e assim ele vivia, como São Francisco de Assis, quase da caridade pública. Era Deus quem lhe dava.

Pessoas humildes com problemas de saúde, dor de dente, espinhela caída, dificuldades familiares e alcoolismo recorriam a Daniel em busca de ajuda. O encontravam sentado num banquinho, lenço branco amarrado na cabeça, com quatro nós dados nas pontas, pronto para atender, conversar, aconselhar, ensinar remédio caseiro, banho de ervas… Dele recebiam uma palavra amiga, um conforto e a cura através do Santo Daime.

Começou a receber o Hinário, que entoava com a sua rabeca e eternizava nas partituras. Rezava em crianças e os caçadores que vinham caçar nas matas ao redor paravam na sua porta para beber um copo d’água ou um café. Ouviam aquelas canções, aqueles hinos bonitos por ele cantados e levavam a notícia para a cidade.

Principiou então a chegar gente de todos os lugares para apreciar o trabalho, trazer crianças para rezar, adultos para tratar da saúde. Vinha muita gente buscar a cura física e espiritual com Daniel, no Centro Espírita que surgia no meio da mata.

No começo ele assumia todos os afazeres. Batia o jagube, fazia o Daime, distribuía, administrava o pequeno Centro. Devoto de São Francisco das Chagas, a este santo querido consagrou a sua vida e missão.

As profissões, ofícios e habilidades profissionais que acompanharam Daniel por toda a vida — aprendidas na Escola de Aprendizes de Marinheiros — o auxiliariam na edificação da Doutrina.

Como marceneiro, fabricou violões e rabecas, com os quais entoava os hinos e salmos sagrados; como músico, escreveu e perenizou as partituras; como carpinteiro e pedreiro edificou a Capelinha de São Francisco, uma casinha rústica de taipa e paus roliços. Depois, iniciou a construção do templo em alvenaria.

Daniel tinha pressa. Tinha urgência. Este profeta da floresta sabia que o seu apostolado não seria longo, pois tinha recebido a Doutrina já em idade provecta. Incansavelmente, todas as noites reunia os amigos, tocava o violão e abria o Culto Santo para prestar Obras de Caridade. Procurava assim alcançar as promessas de Cristo: “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome lá eu estarei”.

As pessoas que a ele recorriam em busca de um conforto para os males físicos e espirituais, e alcançavam a graça divina da cura através da Luz do Santo Daime, se tornavam testemunhas da seriedade do trabalho. Alguns poucos retribuíam a graça se constituindo em trabalhadores daquela Casa Espírita. Surgiam os primeiros discípulos do Mestre — os soldados dos exércitos de Jesus.

Muitos irmãos, levados pela necessidade, procuravam o Mestre:

— É o senhor que é seu Daniel?

— Sou eu mesmo. Eu sei quem você é e o que está sentindo. Sei o que veio à procura.

Manifestando os seus dons de vidência, Daniel relatava para a pessoa quem ela era e o que queria. Os consulentes testificavam:

— Sim, senhor, é isso mesmo.

Ele então rezava na pessoa e ensinava o que ela devia fazer.

Os salmos recebidos por Mestre Daniel Pereira de Mattos — fundador do Centro Espírita e Culto de Oração “Casa de Jesus – Fonte de Luz” — vêm do mítico Castelo do Monte Azulado, contidos nos Livros das 12 Ciências e Mistérios, e constituem o Hinário Sagrado desta linda Doutrina trazida à Terra por Frei Daniel.

Os hinos são a expressão de amor, arrependimento, rogativa, humildade, simplicidade, confissão, gratidão e piedade pelos inocentes e por todos os irmãos necessitados.

A Missão de Mestre Daniel é a preparação do nosso espírito numa linda viagem dentro do Barco Santa Cruz, que singra os mares sagrados recolhendo as almas penitentes e as levando rumo aos santos pés de Jesus.

DESTE MUNDO À ETERNIDADE

Foi em 1956 que Mestre Daniel começou a preparar a irmandade para uma viagem que deveria fazer brevemente. Era um tipo de viagem misteriosa, considerada por alguns um retorno para a sua terra natal, o Maranhão. Mas algumas pessoas interpretavam como a sua provável desencarnação.

Numa carta escrita ao deputado José Guiomard dos Santos, em 1º de maio de 1956, ele prenuncia que talvez fosse embora do querido Acre que ele viu nascer: “me arretiro para sempre desta terra que há 51 anos amorosamente nela assisto com afã de vê-la bela e evoluída em tudo, por tudo”.

Qual o significado de tal mensagem? Possivelmente é o anúncio de que o seu desencarne não demorará, pois ele completa a argumentação dizendo: “sou um homem já de idade, mas diante de Deus nada é impossível. Eu sigo para Ele com firmeza, fé e amor. Sei que os filhos tementes a Ele recebem lindas virtudes de vida e luz”.

Após muitos anos de solidão, Daniel Pereira de Mattos havia desposado a jovem Maria Ferrugem (Maria Souza Mattos) em 1954, com a qual teve um filho, Francisco Mattos. A grande diferença de idade entre os dois e a personalidade da jovem médium cria problemas com ele e de relacionamento com a irmandade.

Era inevitável a separação. De novo solitário, Daniel tem um relacionamento afetivo com outra jovem, recém-chegada à irmandade, Francinete Oliveira dos Santos, com a qual teve um filho também de nome Francisco, nascido depois do falecimento do pai.

Daniel sente que é chegada a hora de deixar a vida de matéria, voltar à Casa do Pai, à morada que Deus lhe destinou — o Castelo de Cristal sobre o Monte Azulado. Eleva o pensamento ao Salvador e pede uma Luz, uma orientação.

Do Alto recebe a instrução: deveria fazer um preparo, uma penitência de noventa dias. Entregaria a penitência ao término da Romaria de São Francisco, seu santo protetor.

Jesus e a Virgem Mãe
Me ordenou noventa dias
Para mim e os meus irmãos
Seguir nossas Romarias

Logo em seguida Daniel adoeceu. Nasce um tumor em sua garganta e, com o passar dos dias, vai crescendo e a doença se agravando.

Daniel desencarnou na tarde do dia 8 de setembro de 1958, às 18h30, no oitavo dia da Romaria de São Francisco das Chagas. O seu passamento aconteceu na casinha do Daime, nos braços de Manuel Hipólito de Araújo. Logo após, o tumor que o havia matado foi diminuindo até desaparecer.

Testifica Manuel Hipólito de Araújo:

— Eu trabalhei dois anos com o Mestre Daniel. Antes de desencarnar, ele fez uma penitência de noventa dias. Apareceu um caroço no pescoço dele, foi ficando vermelho e cada dia maior. Ele não resistiu e desencarnou no limiar dos noventa dias. Assim que ele morreu, aquele caroço desapareceu completamente. Ele desencarnou nos meus braços, no dia 8 de setembro de 1958, às seis horas da tarde. Quem colocou a vela em suas mãos fui eu.

Seu corpo foi colocado no interior da Igreja ainda em construção, sobre a mesa de concreto que ele mesmo havia construído. Nesta noite e durante o dia seguinte, 9 de setembro, a irmandade realizou um trabalho especial e prolongado de homenagens ao seu Mestre. Seu corpo foi sepultado às duas e meia da tarde.

Belarmina Maria de Souza Lopes relata que:

— Muita gente conta que quando ele desencarnou o Céu mudou de cor, foi a coisa mais linda do mundo, não sei se deu vento ou foi chuva, eu sei que foi uma coisa muito linda mesmo, na hora da partida dele.

Assim Daniel deixou esta vida e viajou para a eternidade. Lá do Mundo Espiritual continua a presidir os trabalhos, nos dando força, nos dando Luz, intercedendo junto ao Senhor São Francisco das Chagas, Nosso Senhor Jesus Cristo e a Virgem da Conceição.

Patriarca de Luz, Mensageiro de Luz, Professor de Luz, Zelador da Casa, Sacerdote de Jesus, Servo de Deus, Servo de Jesus. Nos mistérios da sagrada Doutrina Mestre Daniel Pereira de Mattos é o santo missionário franciscano Frei Daniel, o Marinheiro de Luz firme no leme do Barco Santa Cruz, o comandante da grande viagem das nossas vidas, deste mundo à eternidade, no caminho da Salvação.

Para Sempre, Amém.

Fonte: Jornal Grande Bahia

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