24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

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domingo, 15 de setembro de 2013

15 de setembro de 1956. Casamento do Mestre Raimundo Irineu Serra com a Madrinha Peregrina Gomes Serra

Por Juarez Bomfim - Jornal Grande Bahia
Hino 48. A Rainha da floresta

A Rainha da floresta,
Ela veio me acompanhar
Todo mundo ri e graceja
Para depois ir chorar

Tu perdeste a tua luz
Que eu te dei com tanto amor
Não foi a falta de conselho
Tu mesmo nunca ligou

Vai chorar de arrependido(a)
Quando um dia te lembrar
Que eu perdi a minha fortuna
Que eu tinha para alcançar.

Na sua vida em matéria o Mestre Raimundo Irineu Serra teve quatro companheiras. Em Brasileia, pouco antes de 1920, Irineu viveu com sua primeira mulher, Emilia Rosa Amorim, com a qual teve um casal de filhos, Walcírio Genésio da Silva, nascido em 1918 e Walcirene, um ano após. Dos dois, sobreviveu apenas o menino, que aos 52 anos viria a reencontrar o pai e, em aceitando o convite para viver em terras do Alto Santo, com este conviveu até o dia da sua passagem para a vida espiritual, tendo inclusive constituído família na Vila Irineu Serra, ao casar com dona Cecília Gomes da Silva, a simpática dona Preta.

A segunda companheira do Mestre Irineu chamava-se Francisca, da qual temos pouca notícia. Após o seu passamento, Irineu Serra casou-se a 31 de julho de 1937 com Raimunda Marques Feitosa, filha de Maria Franco Marques, uma antiga seguidora sua.

Raimundo Irineu Serra e Raimunda Marques Feitosa tiveram uma filha adotiva, de nome Marta, falecida em 2003.

Durante quase duas décadas de matrimônio, dona Raimunda foi uma figura importante na constituição do ritual da Doutrina do Santo Daime, o braço feminino do Mestre. O ritual que foi se aperfeiçoando com a organização dos hinários bailados, banda de música, a separação do salão de serviços em batalhões masculino e feminino, com os respectivos comandantes, necessitava de uma divisão de trabalho de gênero.

A delicada indumentária das mulheres ornada com a coroa sobre a cabeça, saiote, alegrias, broches de palmas e flores… mais do que precisava de um toque feminino. E foi dona Raimunda a pessoa responsável, junto com as demais mulheres da irmandade, de executar as inovações mandadas pela Rainha da Floresta.

Porém a convivência do Mestre Irineu com a dona Maria Franco, mãe de Raimunda Feitosa, repetiu as anedóticas histórias de conflitos que envolvem genros e sogras — das quais apenas Adão se livrou.

De antiga adepta da Doutrina e inclusive dona de hinário, dizem que Maria Franco ao tornar-se adicta do álcool se afastou dos trabalhos espirituais e deles se tornou uma ferrenha crítica.

Tanto fez, dizem os contemporâneos, que o Mestre Irineu de tão desgostoso pensou até em suspender os trabalhos. Era uma “época em que ele estava muito perturbado com uma família que ele teve com a outra mulher dele, a dona Raimunda. A sogra dele bebia cachaça e perturbava demais” — segundo Percília Matos da Silva.

Esse “balanço” corresponde ao período em que o Mestre recebeu o hino que diz: “Aqui tem um professor, que vai deixar de ensinar. Que ele ensina, ninguém faz caso, só lêem de diante para trás” nos conta ainda dona Percília.

A crise conjugal decorrente desses acontecimentos perdura até 1955, quando dona Raimunda Feitosa, sua esposa, decide ir embora de Rio Branco, Acre, para terras de São Paulo, acompanhada de sua mãe, Maria Franco, e um irmão seu chamado Antonio Roldão Feitosa, pessoa de destaque dentro do grupo de discípulos, não apenas por seu belo hinário como também por ser o comandante da ala masculina.

Segundo Percília Matos da Silva “a velha (Maria Franco) não se rendia de jeito nenhum. Ela tanto insistiu, até que tirou a filha da mão dele. Ela resolveu ir embora e levou a filha. Elas foram para São Paulo”.

Antes de viajar, abandonando marido e filha, dona Raimunda canta este hino para o Mestre Irineu como “carta de despedida”. Resignado com a inevitabilidade da separação conjugal, o Mestre generosamente custeia a viagem da ex-parentela.

A Rainha da floresta,
Ela veio me acompanhar
Todo mundo ri e graceja
Para depois ir chorar.

Este é um hino premonitório do que viria a acontecer em seguida e um lamento antecipado dos eventos futuros. Ao abandonar a Doutrina e o seu esposo, mesmo com todos os conselhos que deve ter recebido para isso não fazer, dona Raimunda não “ligou”, isto é, não deu a devida importância.

Tu perdeste a tua luz
Que eu te dei com tanto amor
Não foi a falta de conselho
Tu mesmo nunca ligou

Eventos trágicos se sucederam logo após: dona Maria Franco faleceu em plena viagem e sua filha Raimunda morreu atropelada nas ruas da cidade de São Paulo.

Vai chorar de arrependido(a)
Quando um dia te lembrar
Que eu perdi a minha fortuna
Que eu tinha para alcançar.

O viúvo e solitário Raimundo Irineu Serra retoma a alegria conjugal e familiar ao casar-se novamente a 15 de setembro de 1956 com a jovem Peregrina Gomes do Nascimento, filha de Sebastião Gonçalves do Nascimento e Zulmira Gomes do Nascimento, neta do patriarca da família Gomes, o senhor Antonio Gomes, seguidor de primeira hora do Mestre Irineu.

Com a sua jovem esposa Peregrina ele viveu feliz até o dia em que desse mundo se ausentou. Atualmente, a Madrinha Peregrina — como é carinhosamente chamada por seus inúmeros amigos — é dignatária do CICLU Alto Santo e dirigente do Centro Livre criado pelo seu esposo. É como se fosse uma parte dele aqui na Terra, ainda entre nós.

A sua liderança religiosa se destaca como de uma vigilante zeladora da memória do seu amado cônjuge e da pureza da Doutrina do Nosso Senhor replantada no seio da Floresta pelo ilustre e saudoso maranhense Raimundo Irineu Serra.

O amigo e/ou irmão que quiser conhecer outros estudos do Hinário O Cruzeiro Universal do Mestre Raimundo Irineu Serra, podem acessar os sites:

http://www.mestreirineu.org/livro_juarez.pdf
http://portalsantodaime.com.br/materia_especifica.php?idmateria=1

Um comentário:

  1. Muito lindo. Obrigado por compartilhar este aspecto tão importante da vida de nosso Mestre!

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