24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

sábado, 22 de dezembro de 2012

Comenda Volta da Empreza

Foto Gleison Miranda
Toninho Alves, Madrinha Peregrina Gomes Serra,
Prefeito Raimundo Angelin e Governador Tião Viana
Na noite de ontem, 21, o Mestre Raimundo Irineu Serra, fundador da doutrina do Daime, foi homenageado com a Comenda Volta da Empreza, honraria máxima concedida pela Prefeitura de Rio Branco, por meio da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil (FGB), aos cidadãos de destaque na história do município. Ele foi agraciado com o grau Chanceler, a mais alta distinção da Ordem.

Outros homenageados da noite foram a educadora Robélia Fernandes, o jornalista Elson Martins e o governador Tião Viana.

Mestre Irineu, um maranhense, chegou a Rio Branco em 1912 – há 100 anos, portanto. No interior da floresta, teve o seu primeiro contato com a ayahuasca, chá sacramental cujo uso remonta aos incas.

A partir de então, teve visões com Nossa Senhora – a Rainha da Floresta –, que o orientou a fundar, em Rio Branco, uma doutrina baseada no uso daquela bebida agregado aos princípios cristãos.

Aos poucos, foi se espalhando, na cidade, notícias sobre o poder curativo do Daime, que, tanto durante os serviços espirituais liturgicamente já estabelecidos como nos atendimentos particulares que o Mestre fazia, salvou a vida de muitas pessoas desenganadas pela medicina convencional urbana.

Além disso, Mestre Irineu exerceu sua cidadania de modo exemplar, contribuindo em muito com a organização social Estado. Agregou em torno de si uma comunidade com a qual trabalhou na agricultura, gerando, inclusive, produções recorde. Formou mutirões de mais de 40 homens, incluindo ele, para por exemplo, limpar os barrancos do Rio Acre e dar mais segurança às pessoas que transitavam no local.

Em sua casa, onde recebia sua irmandade espiritual, cidadãos em geral que buscavam ajuda e representantes do poder instituído, manteve reuniões do Comitê dos Autonomistas, que lutava para elevar o Acre de território a estado. Era consultado, também, por diversas autoridades e políticos que buscavam seu aconselhamento no referente a questões referentes à vida pública.

Mestre Irineu Serra fez sua passagem para o mundo espiritual em 1971. Sua esposa, Peregrina Gomes Serra (ao centro da foto, ladeada, à esquerda, por seu orador, o jornalista Antônio Alves (camisa rosa) e à direita, pelo prefeito de Rio Branco Raimundo Angelim e pelo governador do Estado do Acre Tião Viana), é hoje a responsável pela condução das atividades espirituais do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal Alto Santo.

Em 2010, Mestre Irineu recebeu, in memoriam, da Assembleia Legislativa do Acre o título de Cidadão Acreano, juntamente com outros dois mestres de linhas tradicionais ayahuasqueiras: Mestre Daniel, da Barquinha, e Mestre Gabriel, da União do Vegetal (UDV).

Desde 2008 tramita, no Ministério da Cultura, o processo de reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.

Onides Bonaccorsi Queiroz - Verbo de Ligação

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Manjedoura de Ouro

Maria estava à altura de testemunhar a visita de anjos.

Gabriel lhe trouxe a nova de que, entre todas, fora a escolhida para receber no ventre o filho do Altíssimo. E, assim, a singela moça abrigou em si a maior nobreza do mundo.

Para entregar o Salvador à humanidade, contou com o apoio precioso de José, servo do Senhor.

Mas, entre as coisas da terra, de que conforto dispôs? Que honrarias recebeu a mãe do filho de Deus naquela noite fria?

Para escapar da perseguição, um burrico. Como abrigo, um estábulo. Uns panos para enrolar o bebê. Uma manjedoura como berço. O bendito néctar do sustento alojado em seu peito. A companhia e o calor de alguns animais e a visita de gente simples.

No entanto, o casal portava consigo joia rara: sabia equilibrar-se sobre a linha da fé. Guiava-os a confiança no bem supremo. E trazia uma ciência: lugar ao sol é coração amoroso. Eis a maior dignidade. A grande segurança. A única garantia.

O perigo era vizinho, sim. Mas estavam absolutamente protegidos. Os recursos eram os mais modestos. Entretanto foram assistidos.

E uma coisa é certa: não houve festa mais feliz e rica do que a daquela noite. Porque a Estrela Divina brilhava no céu.


Onides Bonaccorsi Queiroz

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Plano de Cultura de Rio Branco - Acre


O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO

O marco inicial do processo de construção coletiva do Plano foi a organização de um diagnóstico da cultura local, produto do I Fórum Municipal de Cultura,realizado de setembro a novembro de 2005, em 11 reuniões, com 440 participantes.

O Marco Legal do Plano é a Lei N° 1.676/2007, do Sistema Municipal de Cultura de Rio Branco (SMC), que atribui ao Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC), em corresponsabilidade com a Fundação Garibaldi Brasil, a função de construir um Plano para a Cultura, a ser discutido e deliberado na instância máxima de participação do CMPC: a Conferência.

A peleja para a construção do Plano tem um lastro que legitima o processo: seis anos de discussão envolvendo artistas e fazedores das áreas de Arte e Patrimônio Cultural, no âmbito de diversas instâncias: 3 fóruns temáticos em 2009, 5 em 2010, 1 em 2011, com 1804 participantes envolvidos.

Em 2009, as 18 Câmaras Temáticas, sendo nove de Arte e nove de Patrimônio Cultural do CMPC, realizaram 174 reuniões com a presença de 411 conselheiros, para atualização e aprofundamento do diagnóstico construído em 2005. Em 2010 foram 99 reuniões com 402 conselheiros, ao longo das quais foram construídas propostas de ações para o Plano.

Em 2011, a FGB, com o suporte da consultoria do Professor Dr. José Márcio Barros e Giselle Lucena, do Observatório da Diversidade Cultural (Belo Horizonte/MG), realizou a sistematização das propostas oriundas de Conferências, Encontros Setoriais e das diversas instâncias do CMPC, por segmento de Arte e Patrimônio Cultural.

Na sequência, em Seminário Interno: FGB e parceiros da Rede Acreana de Cultura (RAC), com a presença de representantes do MinC/AC, IPHAN/AC, UFAC, SEBRAE/AC, FEM, Centro de Multimeios/SEME, conselheiros da CEC e dos Colegiados de Arte e Patrimônio Cultural do CMPC – realizou o trabalho de construção de um diagnóstico do cenário atual da experiência do SMC, que teve como resultado a elaboração de uma proposta de Sumário, bem como de Princípios e Objetivos para o Plano.

Em seguida, voltou-se à elaboração de propostas de Diretrizes, consolidada em reunião com a presença de todos os parceiros citados acima, e simultaneamente deu início à elaboração de textos sobre a realidade atual dos segmentos de Arte e Patrimônio Cultural, com o apoio de Flávia Burlamaqui, a contribuição de conselheiros e parceiros, e as orientações da consultoria.

Essa etapa do processo foi concluída em reunião com os consultores, na qual foi consolidada uma Proposta já contendo Princípios, Objetivos, Diretrizes, Estratégias e Propostas de Ações, além de um texto propondo uma metodologia para o processo de avaliação e monitoramento do Plano.

O passo seguinte foi colocar a proposta em discussão no âmbito do CMPC, onde 317 conselheiros de Arte e Patrimônio protagonizaram 29 reuniões discutindo a proposta de Plano.

Para além do Conselho, foram realizadas mais quatro reuniões em áreas rurais (Pólos Agroflorestais Benfica, Hélio Pimenta, Custódio Freire e Geraldo Fleming), com 81 participantes, e uma com Associação de Moradores e Conselhos das Regionais Administrativas de Rio Branco, com 33 participantes.

Na III Conferência de Cultura de Rio Branco - gestores, conselheiros do CMPC, artistas e fazedores de Arte e Patrimônio Cultural – discutiram e deliberaram os Princípios, Objetivos,Diretrizes, Estratégias, Ações e Metasdo PlanoMunicipal de Cultura, pactuando para os próximos dez anos os rumos da política pública para a Cultura de Rio Branco.

Os Planos e os Sistemas consolidam um ao outro, e estabelecem caminhos para a concretização de ambos, sendo, portanto, instrumentos de planejamento estratégico que organizam, regulam e norteiam a execução de políticas culturais. Com a aprovação do Plano Municipal de Cultura pela Câmara de Vereadores, esse processo ganha estabilidade jurídica e fica assegurada a sua continuidade enquanto Política de Estado.

Hoje, 18 de dezembro de 2012, o Projeto de Lei do Plano será discutido, aprovado e transformado em Lei, no âmbito da Câmara de Vereadores. Logo após, a Lei será sancionada pelo Prefeito, a partir do que norteará as políticas culturais de Rio Branco nos próximos 10 anos, contribuindo assim para o fortalecimento do Sistema Municipal de Cultura - SMC, uma vez que conferirá a ele conteúdos e compromissos, através de suas ações, estratégias e metas.


domingo, 9 de dezembro de 2012

A Graça de Maria

Por Edson Lodi

Uma mulher canta
o silêncio está além de minha janela
e nada o perturba
nem mesmo a mulher que canta ao longe.

Lentamente
como se cada nota fosse lapidada
em teclados de pedras e água
a música se apresenta cada vez mais clara
despontando um fino brilho
que alterna e harmoniza tons sobre tons
sustentando
no ar a lembrança do Divino.

A Ave Maria
preenche todos os espaços
Meu coração silencia seus tambores
e ressoa levemente em sintonia
com os compassos da louvação
à Virgem Mãe.

Um diamante cintila no ar
e meu olhar mira em cristais celestiais.

A beleza do céu
a pureza das nuvens
fazem-me imaginar
o Sagrado Manto de Nossa Senhora
tecido com o carinho do mais puro linho
onde agasalhou-se
o recém nascido amor.

Um menino tão pequeno
que em seu destino contém
a grandeza de Deus.
Este menino é nascido puro
no frio orvalho
entre a noite que findava
e o dia em que raiou a nova luz.

A Estrela do Oriente
espelhou seu brilho entre as flores
que exalaram um perfume
até então desconhecido
ainda que esperado.
Este aroma, de raro encanto
penetrou nas fímbrias
do manto de Maria
e ainda hoje
todas as mães o reconhece
- único e singular -
em seus filhos que ao nascerem
renovam o milagre da vida.

A graça de Maria
é Jesus, o bendito fruto da Luz.

O doce olhar de Maria
a contemplar o filho de Deus
revestia-se de pequenas estrelas
onde reluzia
o brilho maior da Estrela do Oriente
que no céu apresentava
o sinal do Salvador.

No olhar do menino Jesus
a dor e o amor
entrelaçavam espinhos e flores.
Os espinhos nascidos
da inconsciência dos homens
e as flores dos jardins
verdejantes e fartos de Seu Reino
para lembrar-lhes a ciência do bem.

Entre o olhar da mãe
e o de seu bendito filho
a pureza permeava o infinito
florescendo
no silêncio da eterna glória
e resplandecendo
a memória do Pai Celestial.
Amor Vivíssimo.

Rio Envira/AM. Lua nova. Dez. 2000.