24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

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segunda-feira, 10 de junho de 2013

50 Anos da Escola São Francisco de Assis

Juarez Duarte Bomfim
Sociólogo

Em 1945 Mestre Daniel Pereira de Mattos se instalou na Vila Ivonete (Rio Branco-Acre), nas margens de uma estrada do seringal Empresa, em área pertencente ao Capitão Manuel Julião de Souza, seu compadre.

Ao lado de sua humilde casinha Daniel ergueu uma pequena capela voltada para o nascente, medindo mais ou menos 3X5m, uma construção rústica de taipa e paus roliços, coberta de palha, e a consagrou a São Francisco das Chagas.

Esta Igrejinha era chamada de “capelinha” pelo Mestre Daniel e passou a ser conhecida como Capelinha de São Francisco pelos seringueiros e caçadores da região que, junto com seus familiares, procuravam aquele senhor pretinho de óculos para aconselhamentos, rezas em crianças e lhes tirar panema. Seus trabalhos espirituais eram realizados com a bebida sacramental Daime, ou ayahuasca, usada desde tempos imemoriais pelos indígenas da Amazônia Ocidental.

Em torno da capelinha e da casa do Mestre Daniel foi se constituindo uma comunidade religiosa, participante dos trabalhos espirituais. Um padre católico amigo da Missão, que a conheceu no início dos anos 1960, compara aquela comunidade a uma espécie de mosteiro franciscano.

Acontece que as crianças das famílias que frequentavam o Culto de Oração do Mestre Daniel e de seus sucessores, sofriam discriminações e preconceitos nas escolas em que estudavam, por serem filhos de pais que comungavam do Daime. Isso levou os participantes da Capelinha a se organizarem para fugirem dessa perseguição.

Em 1963, o vice-presidente da instituição, denominada Centro Espírita e Culto de Oração “Casa de Jesus “Fonte de Luz”, o sr. Manuel Hipólito de Araújo (1921 — 2000) toma a iniciativa de dar aulas para as crianças da comunidade no próprio terreno da Igreja.

Assim surgiu a Escola São Francisco de Assis: na sala de sua casa, uma taperazinha de quarto e sala construída em taipa e coberta com latas de querosene abertas, medindo quatro metros de largura por seis de comprimento.

Ali, Manuel Araújo morava e lecionava. A escola primária improvisada teve inicialmente aulas noturnas e, depois, diurnas.

— Quando eu estava aí com 30 alunos debaixo de uma taperazinha coberta de lata de querosene, dentro de uma sala, eu chamei o governador aqui, Jorge Kalume, e mostrei a ele em que condições eu estava procurando ajudar os nossos irmãozinhos em idade escolar.

— Manuel, eu particularmente vou lhe dar 40 mil cruzeiros pra você iniciar uma escola de alvenaria aqui pra você.

Com o recurso disponibilizado e mais alguns operários cedidos para a obra, imediatamente Manuel Araújo começou a construção da escola, de propriedade da Missão de Frei Daniel.

Com o passar dos anos, a Vila Ivonete foi perdendo a sua condição de área florestal, com uma rápida urbanização. A partir de 1967, a escola ampliou o seu atendimento para as crianças dos bairros que vão se formando ao redor da Igrejinha do Daime, tornando-se referência de apoio educacional.

A escola foi registrada na Secretaria de Educação e, posteriormente, assinado um convênio que formalizou a cessão para o governo. A direção da escola se manteve sob a responsabilidade deste Centro Espírita e Culto de Oração — que foi registrado no CNSS (Conselho Nacional de Serviço Social) no ano de 1970.

O irmão Manuel Araújo se manteve na direção da Escola São Francisco de Assis até o ano de 1981. Atualmente, ela é um complexo educacional consolidado que atende a 300 crianças, matriculadas da 1ª à 5ª Séries do Ensino Fundamental.

Hoje, 10 de junho de 2013, aniversário de nascimento de Manuel Hipólito de Araújo, comemoram-se também os 50 Anos da Escola São Francisco de Assis I. Os festejos começaram cedo e vão se estender por todo o dia.

Esta é uma história de abnegação e entrega do Padrinho Manuel ao auxilio fraterno. O seu lema sempre foi e é “fazer o bem sem olhar a quem”.

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