24 de novembro, dia acreano da cultura ayahuasqueira

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quinta-feira, 8 de março de 2012

Uma mulher sem nome

Por Edson Lodi.

Caminho apressadamente e um gesto me faz parar. A mão suja pelo carvão das ruas, cheia de cicatrizes e desamores me pede uma esmola. Paro e observo aquela mulher com uma criança no colo que lhe suga o seio e o coração. A mão direita – tingida com as mesmas dores – acaricia a cabeça daquele que é o seu filho.
Aquela mulher dormirá ao relento como tantas outras vezes e dará ao seu filho o calor do seu corpo com o cuidado para que os ossos não perturbem o sonhar de sua criança. Ela dormirá com fome, como tantas outras vezes, mas os seus seios – caídos, magros e encilhados – amamentarão com o mel da vida aquela criança.
È uma mulher iguais a tantas que nas sombras das sarjetas, na cruel ignorância de alguns seres humanos, ficou à margem da rosa e do amor. Não. O amor está presente ainda que sem belas vestimentas ou canções maravilhosas.  Ao seu filho ela doa o amor em sua expressão mais simples: a de doar o pouco que tem, e que se transforma em tudo para aquele menino tão Francisquinho.    
 Ainda que sofrida, desconsiderada, nela reconheço a dignidade de uma mulher a conservar a chama da vida – ai meu Deus como será no futuro aquele menino?  Sim, a mulher tem este dom de gerar, de preservar a vida, ainda que coberta com os trapos da miséria e da opressão.
Compreendam-me as mulheres que são belas e trazem o perfume do jasmim que tanto admiro. Compreendam-me as mulheres que tudo dão aos seus filhos – e às vezes na realidade é tão pouco; as mulheres que trabalham para tornar o mundo mais claro e maternal.
Compreendam-me as atrizes, as que labutam na política, as professoras, as operárias e as religiosas. As que com seu amor clareiam o mundo dos homens, todavia minha oração neste dia em que louvamos e registramos nosso amor às mulheres; é para uma que desconheço seu nome, que dorme ao relento e decerto nem sabe que este dia é dedicado a ela.
È para ela que acaricia o filho nas trevas da noite, que resiste silenciosa e tão humildemente a todas as injustiças, que faço esta oração e a promessa de aliar-me a todos que louvam as mulheres e que lutam para que todas possam ter uma condição de justa e digna.

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