Marina Silva
Tenho tentado ajudar familiares e conterrâneos numa situação dramática que hoje vou ver de perto: a enchente do rio Acre, que já alcançou quase a marca histórica de 1997. Agora, com mais pessoas atingidas, devido ao crescimento urbano sem planejamento.
Entre as pessoas afetadas estão membros da minha família. Meu pai, com 80 anos, como a maioria das pessoas de sua idade, recusa-se a sair de casa, cuja palafita mandou aumentar para que ficasse acima da marca alcançada pela água em 1997. Vizinhos, como dona Antônia e dona Alzira, e minha irmã Doia, que também moram em casas altas, permanecem no local. Minha irmã comprou uma canoa e, com meu sobrinho Eudes, dedica-se ao trabalho de ajudar os desabrigados.
Consigo imaginar a aflição das milhares de famílias no Acre e em vários outros Estados, que olham para o céu indagando quando vai parar de chover ou quando chegarão os recursos prometidos. No caso do Acre, nem tanto: o esforço do governo estadual e das prefeituras, com a ajuda do governo federal, criou uma estrutura para abrigar com segurança e socorrer com rapidez.
Admirável tem sido a mobilização da sociedade e do intenso voluntariado. Os órgãos públicos teriam muita dificuldade para acolher todos.
Na Amazônia, temos uma dádiva, que é a floresta. Em Rio Branco, a situação é mais grave justamente porque é o trecho onde o rio Acre perdeu a maior parte de sua mata ciliar e a subida das águas não tem contenção. Ainda assim, é mais lenta que em outras regiões. Na planície, a água se espalha mata adentro. Em regiões de relevo mais acidentado, sua rapidez e sua força provocam tragédias irreparáveis.
Mas há outro fator adicional, expresso numa palavra muito usada para descrever as melhores práticas de sustentabilidade: resiliência. Essa espécie de teimosia faz com que as pessoas inventem novos modos de conviver com a natureza em mudança e lhes dá capacidade de resistir, adaptar-se e, se necessário, mudar. No caso dos acreanos, sua base é o amor pelo rio que inunda as casas mas que provê os recursos essenciais à vida.
Ao brasileiro não falta solidariedade, nem amor à natureza e resiliência para suportar seus rigores. O Estado e seus dirigentes poderiam aprender essas lições, para distribuir com justiça os recursos e promover adaptações necessárias a este novo tempo de extremos.
Hoje abraçarei meu velho teimoso e, caso o rio tenha subido, tentarei convencê-lo a ir para a minha casa, onde o igarapé São Francisco chega perto, mas não entra.
PS: Campanha Acre Solidário (doações para os atingidos), Banco do Brasil, ag. 0071-X, conta-corrente 100.000-4, CNPJ 14.346.589/0001-99
Tenho tentado ajudar familiares e conterrâneos numa situação dramática que hoje vou ver de perto: a enchente do rio Acre, que já alcançou quase a marca histórica de 1997. Agora, com mais pessoas atingidas, devido ao crescimento urbano sem planejamento.
Entre as pessoas afetadas estão membros da minha família. Meu pai, com 80 anos, como a maioria das pessoas de sua idade, recusa-se a sair de casa, cuja palafita mandou aumentar para que ficasse acima da marca alcançada pela água em 1997. Vizinhos, como dona Antônia e dona Alzira, e minha irmã Doia, que também moram em casas altas, permanecem no local. Minha irmã comprou uma canoa e, com meu sobrinho Eudes, dedica-se ao trabalho de ajudar os desabrigados.
Consigo imaginar a aflição das milhares de famílias no Acre e em vários outros Estados, que olham para o céu indagando quando vai parar de chover ou quando chegarão os recursos prometidos. No caso do Acre, nem tanto: o esforço do governo estadual e das prefeituras, com a ajuda do governo federal, criou uma estrutura para abrigar com segurança e socorrer com rapidez.
Admirável tem sido a mobilização da sociedade e do intenso voluntariado. Os órgãos públicos teriam muita dificuldade para acolher todos.
Na Amazônia, temos uma dádiva, que é a floresta. Em Rio Branco, a situação é mais grave justamente porque é o trecho onde o rio Acre perdeu a maior parte de sua mata ciliar e a subida das águas não tem contenção. Ainda assim, é mais lenta que em outras regiões. Na planície, a água se espalha mata adentro. Em regiões de relevo mais acidentado, sua rapidez e sua força provocam tragédias irreparáveis.
Mas há outro fator adicional, expresso numa palavra muito usada para descrever as melhores práticas de sustentabilidade: resiliência. Essa espécie de teimosia faz com que as pessoas inventem novos modos de conviver com a natureza em mudança e lhes dá capacidade de resistir, adaptar-se e, se necessário, mudar. No caso dos acreanos, sua base é o amor pelo rio que inunda as casas mas que provê os recursos essenciais à vida.
Ao brasileiro não falta solidariedade, nem amor à natureza e resiliência para suportar seus rigores. O Estado e seus dirigentes poderiam aprender essas lições, para distribuir com justiça os recursos e promover adaptações necessárias a este novo tempo de extremos.
Hoje abraçarei meu velho teimoso e, caso o rio tenha subido, tentarei convencê-lo a ir para a minha casa, onde o igarapé São Francisco chega perto, mas não entra.
PS: Campanha Acre Solidário (doações para os atingidos), Banco do Brasil, ag. 0071-X, conta-corrente 100.000-4, CNPJ 14.346.589/0001-99
Fonte: Blog do Altino
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